A Central de Movimentos Populares (CMP) participou de uma série de atividades em defesa da Amazônia, na última semana, em Belém do Pará. Na quarta-feira (27), a CMP realizou o Seminário da Região Norte com o tema “Direito à Cidade, Meio Ambiente e Soberania Alimentar”. O evento, que aconteceu na sede da Imprensa Oficial da capital paraense, fez parte da programação coligada a 10ª edição do Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), realizado de 28 à 31 de julho na capital paraense com mais de 10 mil pessoas.
No Seminário, compuseram a mesa dos debates Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP, que falou sobre o Direito à Cidade; André de Souza, professor da Universidade Federal do Pará, que tratou sobre o Meio Ambiente e Maria Amujaci Machado Brilhante, do Movimentos de Mulheres, que abordou o tema da Soberania Alimentar. Haroaldo Carneiro, presidente da imprensa Oficial do Estado do Pará (IOEPA) e Airton Faleiro, deputado federal do PT, também fizeram saudações ao público que prestigiou o evento organizado pela CMP.
A desigualdade nas cidades foi abordada com bastante preocupação por Raimundo Bonfim. No evento, ele afirmou que os movimentos populares estão fortalecidos contra o capitalismo que explora o trabalhador brasileiro nas cidades, causando miséria, exclusão e muita fome.
“Aqui na região Norte, por exemplo, tem baixíssimos índices de saneamento, com sérios problemas com palafita, sub moradias, falta de água, esgoto, de regularização fundiária. Cada vez mais assistimos as políticas sob a ótica do mercado imobiliário. No Brasil atual, o direito à cidade é negado a classe trabalhadora. Falta transporte, acesso à cultura, a educação. Mas, nós só vamos conseguir mudar esse cenário, com um novo presidente no Palácio do Planalto. Precisamos eleger Lula neste processo eleitoral, mas temos também que aumentar o número de parlamentares nas Assembleias Legislativas, na Câmara, no Senado e nos governos do estado, de pessoas comprometidas com as lutas populares do campo e da cidade”, disse Bonfim.
O Seminário também contou com uma análise bastante aprofundada sobre a destruição das florestas e os ataques aos direitos humanos feita pelo Engenheiro Florestal André de Souza. Segundo o acadêmico, o Brasil assiste há tempos a contínua devastação da floresta Amazônica, com a poluição dos rios, mortandade de espécies e conflitos em terras indígenas. Se acelera também, segundo ele, a monocultura de soja. “A porta está aberta ao agronegócio, foram liberados 1.629 agrotóxicos cancerígenos. Garimpos ilegais e as grandes mineradoras liberam rejeitos, poluem e causam danos irreparáveis a natureza”. Em seu discurso, o engenheiro expôs que, dados recentes, apontam que a Amazônia, ocupa 33% de floresta tropical do mundo, 20% da água potável do planeta, 50% da biodiversidade do planeta, 1,5 milhões de espécies vegetais, 3 mil espécies de peixes, 950 espécies de aves, 300 espécies de mamíferos.
Logo após saudar os presentes, Maria Amujaci, do Movimentos de Mulheres, falou sobre os mais 33 milhões de brasileiros que passam fome hoje no Brasil e lembrou do exitoso programa “Fome Zero”, programa do governo Lula, que ajudou a tirar o país do Mapa da Fome. “Esse programa teve reconhecimento internacional e foi copiado em vários países”. Em 2014, o Brasil, havia saído do mapa da fome. É claro que o Bolsa Família e outras políticas sociais foram importantes para levar cidadania e dignidade ao povo brasileiro também. Contudo, infelizmente o Brasil se encontra novamente na triste estatística da fome. Fatores como desemprego, concentração de renda e falta de políticas públicas são responsáveis por esse cenário. Agora, será preciso ter uma política de governo em conjunto com políticas sociais eficazes de reverter essa trágica realidade.
10ª Edição do Fórum Pan-Amazônico

Terminou no domingo (31) a 10ª Edição do Fórum Pan-Amazônico (Fospa), sediada da cidade de Belém do Pará. Com o tema “O Esperançar das Amazônias”, o evento que durou quatro dia, teve como objetivo de analisar a realidade da nossa floresta e propor ações de resistência e lutar pelos povos originários. Nesta edição, o Fospa reuniu cerca de 10 mil pessoas, dentre representantes quilombolas, indígenas, ribeirinhos, movimentos populares e sociais, além de organizações da sociedade civil de vários países da Pan-Amazônia, que integra o Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, além de outros países da Europa e Ásia.
Com debates em torno da defesa do meio ambiente e da vida, foram realizadas mais de 260 atividades, entre rodas de conversa, atos em homenagem aos defensores da floresta e manifestações contra o fascismo, o autoritarismo, o genocídio ambiental e o fundamentalismo. A Central de Movimentos Populares teve uma atuação bastante expressiva do encontro, sobretudo na Marcha de Abertura desta edição.
“O encontro surpreendeu com a diversidade de grupos e entidades representativas que prestigiaram o evento. Nas ruas de Belém, durante a Marcha, o que se viu foi um desejo incontrolável de resistir à extração das riquezas da Amazônia, que tem provocado um processo sem precedentes de destruição, deixando os povos que vivem na região das florestas em situação de extrema violência, fome e miséria”, contou o coordenador nacional da CMP, Raimundo Bonfim, que esteve presente na capital paraense em todos os dias do evento.
A gravidade do desmatamento da Região Amazônica e as principais causas dos crimes cometidos nos últimos anos contra o meio ambiente, os povos originários e os defensores da floresta foram detalhados nas mais diversas mesas de debates do Fospa. Dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram, por exemplo, que, no primeiro semestre do ano, 3.988 quilômetros quadrados de floresta foram desmatados na região. O encontro homenageou os mártires da floresta e, neste sentido, os assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira foram lembrados com muitos pesares.
Marilda Cohen, da coordenação estadual da CMP do Pará, também participou da 10ª edição do Fórum Social Pan-Amazônico e, ao final do evento, disse ter ficado bastante emocionada com as trocas de experiências e a exposição de vários povos indígenas, de diversas etnias, que falaram sobre seus processos de resistência contra os ataques de seus territórios e corpos. “O avanço do garimpo ilegal provoca um verdadeiro genocídio da região Amazônica. Os povos originários estão vivendo em situação de fome e misérias. As mulheres estão sendo violentadas, estupradas. Não podemos nos calar. Os impactos sociais e ambientais são irreparáveis. Entretanto, chegamos a uma única conclusão: precisamos tirar com urgência Bolsonaro da Presidência da República. Fora Bolsonaro genocida”.
Leia aqui artigo de Raimundo Bonfim publicado na Revista Fórum sobre a 10ª Edição do Fórum Pan Amazônico.